Sobre formas tecidas
Somos
constituídos de tudo o que nos rodeia, mas nem sempre percebemos. Roseli Nery resgata
da invisibilidade dos objetos banais. Aqueles que não vemos mais pelo fato de
estarem sempre sob nossos olhos. Porém, eles têm brilhos, reflexos tem uma
potência que só um olhar atento e sensível encontra. Há beleza e perigo no dia
a dia. Estes objetos sofrem nas mãos da
artista. Sofrem a retirada de sua função cotidiana, sofrem uma resinificação
ao se transformarem em matéria-prima na construção de uma outra forma, sofrem o
acúmulo e a repetição do gesto que os congrega.
A artista como uma Penélope contemporânea,
esquecida de Ulisses e concentrada no gesto apenas tece. Tramar pode ser tecer,
mas aqui também, como nas novelas, é um procedimento ardiloso que captura nosso
olhar. Tecendo formas Roseli vai tramando teias que nos apanham na cegueira de
nosso cotidiano e nos devolvem a visão.
Cláudia Paim
Outono de 2002