quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Texto de Claudia Paim - Sobre formas tecidas

 

Sobre formas tecidas

 

 

Somos constituídos de tudo o que nos rodeia, mas nem sempre percebemos. Roseli Nery resgata da invisibilidade dos objetos banais. Aqueles que não vemos mais pelo fato de estarem sempre sob nossos olhos. Porém, eles têm brilhos, reflexos tem uma potência que só um olhar atento e sensível encontra. Há beleza e perigo no dia a dia.  Estes objetos sofrem nas mãos da artista. Sofrem a retirada de sua função cotidiana, sofrem uma resinificação ao se transformarem em matéria-prima na construção de uma outra forma, sofrem o acúmulo e a repetição do gesto que os congrega.

             

A artista como uma Penélope contemporânea, esquecida de Ulisses e concentrada no gesto apenas tece. Tramar pode ser tecer, mas aqui também, como nas novelas, é um procedimento ardiloso que captura nosso olhar. Tecendo formas Roseli vai tramando teias que nos apanham na cegueira de nosso cotidiano e nos devolvem a visão.

 

Cláudia Paim

Outono de 2002

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